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COMUNICAÇÃO

Água abasteceria Goiás 6 vezes

06/03/2015

Água abasteceria Goiás 6 vezes

A água utilizada para a irrigação em Goiás daria para abastecer, diariamente, 5,7 vezes a população do Estado. É o que mostra o cruzamento de dados divulgados pela Agência Nacional das Águas (ANA), que aponta 2.872 equipamentos em território goiano, com um cálculo de consumo feito por especialista, a pedido do POPULAR.

De acordo com o engenheiro agrônomo Antônio Pascoaleto, coordenador do mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e professor de engenharia ambiental do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), uma pessoa gasta em média 200 litros de água por dia. Enquanto um pivô central consome, em 10 horas de trabalho (normalmente durante a noite), 2.600 metros cúbicos por hora (m3/h), ou 2,6 milhões de litros por hora. Ou seja, um pivô corresponde ao consumo de uma cidade de 13 mil habitantes.

O Levantamento da Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil - Ano 2013 é o primeiro em escala nacional sobre o tema. O estudo identificou aproximadamente 18 mil pivôs centrais ocupando 1,18 milhão de hectares, área que representa um aumento de 32% em relação ao Censo Agropecuário de 2006. Mas em Goiás, a quantidade de pivôs é ainda maior, pois um mapeamento da Secretaria Estadual de Cidades e Meio Ambiente (Secima), também com dados de 2013, diagnosticou 2.895 equipamentos no Estado.

Analista ambiental da Superintendência de Recursos Hídricos da Secima, Marcus Aurélio Gomes Antunes, avaliou o cálculo de Pascoaleto como razoável. No entanto, destaca que a técnica não é uma vilã ambiental, desde que feita dentro das técnicas agronômicas, pois permite uma alta produtividade por espaço ocupado.

“É a melhor técnica para grandes culturas como milho, feijão, soja e cana-de-açúcar. Você pode até triplicar a produtividade em uma mesma área, diminuindo a pressão sobre a abertura de novas áreas, evitando desmatamentos”, diz.

O analista da Secima também afirma que um pivô tem 85% de eficiência, “ou até mais, se o equipamento estiver bem regulado”, enquanto o abastecimento tem uma perda de 28%. “Essa água usada na irrigação infiltra no solo, é absorvida pela planta e gera alimento”, defende.

O estudo da ANA não faz comparação entre o uso dos pivôs e o consumo para o abastecimento público. Mas o especialista em recursos hídricos da agência Thiago Fontenelle, um dos responsáveis pelo levantamento, admite que o consumo de água é bastante elevado.

Para Fontenelle, a agricultura não é vilã, mas a maior vítima da crise hídrica. Segundo o analista, nem sempre a água usada na irrigação concorre com o abastecimento. “Essa água está geralmente longe de cidades ou não é usada para a captação”, diz. Mas em casos de escassez, como em São Paulo, o abastecimento público e dessedentação de animais se tornaram prioritários e houve rodízio entre os irrigantes.

Responsáveis por 72% da demanda do recurso hídrico no País, segundo o levantamento, os irrigantes não pagam pela água bruta em boa parte do Brasil, inclusive em Goiás.

Cristalina é o que tem mais pivôs

O Levantamento da Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil - Ano 2013mostra Goiás na segunda posição em irrigação, com 18% do total de área irrigada, atrás apenas de Minas Gerais, que concentra 31%. Junto com Bahia (16%) e São Paulo (14%), os quatro Estados respondem por 80% dos pivôs do País. Mas em quantidades de equipamentos, o município de Cristalina, no Leste goiano, é o primeiro da lista, com com 750 pivôs.

Apesar da maior concentração de pivôs, Cristalina fica em segundo lugar no ranking de área irrigada, com 54.108 hectares (ha). A maior área é ostentada pela vizinha Unaí (MG)s, com 56.983 ha. Juntos, os três municípios concentram na Bacia do Alto São Marcos mais de 50% da área irrigada do País.

A região de Cristalina, Unaí e Paracatu é monitorada pela Agência Nacional de Águas (ANA) por conta de conflitos por água, entre os próprios irrigantes e os produtores e a Usina Hidrelétrica da Batalha, como mostrou reportagem do POPULAR de 9 de fevereiro. Por conta dos conflitos, a Bacia do São Marcos terá a elaboração de novo marco regulatório. O estudo foi realizado pela ANA e a Embrapa Milho e Sorgo (MG), levando em consideração a crescente expansão da agricultura irrigada no Brasil.

 

Cobrança pelo uso está sendo estudada

Em reportagem do dia 2 de março, o POPULAR adiantou que a cobrança pelo uso da água bruta é uma das medidas a serem sugeridas no Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH). O PERH será lançado no dia 26, durante a Semana Mundial da Água. Depois, o documento será enviado à Assembleia Legislativa.

Mesmo sem a instituição formal da cobrança, o Comitê da Bacia do Paranaíba, da qual o Rio São Marcos faz parte, já discute a forma como será a cobrança. “Nosso prognóstico é que a irrigação tem um grande potencial de expansão em Goiás. Mas, na Bacia do Alto São Marcos, há saturação”, diz o especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas Thiago Fontenelle.

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